quarta-feira, novembro 29, 2006

"Caipira Mineiro em uma Degustação de Vinhos"

- Hummm...
- Hummm...
- Eca!!!
- Eca???? Quem falou Eca?
- Fui eu, sô! O senhor num acha que esse vinho tá com um gostim estranho?
- Que é isso?! Ele lembra frutas secas adamascadas, com leve toque de trufas brancas, revelando um retrogosto persistente, mas sutil, que, enevoa as papilas de lembranças tropicais atávicas...
- Putaquepariu sô! E o senhor cheirou isso tudo aí no copo?!
- Claro! Sou um enólogo laureado. E o senhor?
- Cebesta, eu não! Sou isso não senhor!! Mas que isso aqui tá me cheirando iguarzinho à minha egüinha Gertrudes depois da chuva, la isso tá!
- Ai, que heresia! Valei-me São Mouton Rothschild!
- O senhor me desculpe, mas eu vi o senhor sacudindo o copo e enfiandoo narigão lá dentro.
O senhor tá gripado, é?
- Não, meu amigo, são técnicas internacionais de degustação entende? Caso queira, posso ser seu mestre na arte enológica. O senhor aprenderá como segurar a garrafa, sacar a rolha, escolher a taça, deitar o vinho e, então...
- E intão moiá o biscoito, né? Tô fora, seu frutinha adamascada!!!
- O querido não entendeu. O que eu quero é introduzí-lo no...
- Mais num vai introduzí mais é nunca! Desafasta, coisa ruim!
- Calma! O senhor precisa conhecer nosso grupo de degustação. Hoje, por exemplo, vamos apreciar uns franceses jovens...
- Hã-hã... eu sabia que tinha francês nessa história lazarenta.
- O senhor poderia começar com um Beaujolais!
- Num beijo lê, nem beijo lá! Eu sô é home, safardana!
- Então, que tal um mais encorpado?
- Óia lá, ocê tá brincano com fogo, cabra safado...
- Ou, então, um suave fresco!
- Seu moço, tome tento, que a minha mão já tá coçando de vontade de meter um tapa na sua cara desavergonhada!!!
- Já sei: iniciemos com um brut, curto e duro. O senhor vai gostar!
- Num vô não, fio de um cão! Mas num vô, memo!!!
Num é questão de tamanho e firmeza, não, seu fióte de brabuleta. Meu negócio é outro, qui inté rima com brabuleta...
- Então, vejamos, que tal um aveludado e escorregadio?
- E que tal a mão no pédovido, hein, seu fióte de Belzebu?
- Pra que esse nervosismo todo? Já sei, o senhor prefere um duro e macio, acertei?
- Eu é qui vô acertá um tapão nas suas venta, cão sarnento!!! Engulidô de rôia!!!
- Mole e redondo, com bouquet forte?
- Agora, ocê pulô o corguim!!! E é um... e é dois... e é treis!!!
Num corre, não, fiodumacadela!
Vorta aqui que eu te arrebento, sua bicha assanhada !!!...

quinta-feira, novembro 09, 2006

"Prece do Maçom"

Oh! Grande Arquiteto do Universo,
Faça que minhas decisões, meus dias, meus pensamentos,
Sejam os exatos reflexos dos seus ensinamentos,
E eu possa, assim, caminhar com integridade...
Quando fizer algo em favor dos outros,
Que meu nome seja simplesmente, como os demais, citado,
Sendo em tempo algum, jamais exaltado,
Pois, apenas estarei cumprindo minha obrigação de Maçom.
Grande Arquiteto do Universo,
Fazei com que eu não me sinta inebriado por nada,
Que minhas palavras brotem do fundo do coração,
E não sejam, simples arranjos de letras fabricados em meu cérebro e transmitidos,apenas para causar comoção!!!
Não permita que meu ego aprenda a conjugar somente a primeira pessoa do singular,
Incute em meu ser, o sentido do “nós”!!!
E que minhas ações sejam corretas e se difundam, brandamente,
Por intermédio da minha voz.
Se um dia detiver o poder em minha vida profana,
Que seja ele manso, digno, algo que não se ufana,
Posto que é efêmero!
Que eu não imponha regras quando ajudar a um irmão,
Pois deverei fazê-lo com carinho, desprendimento, empolgação,
Não permita que eu aprenda a julgar...
Ensina-me a perdoar,
A não guardar ódio em meu coração,
Pois se assim não for, serei apenas mais um na multidão.
Sentimentos como a cobiça e a vaidade,
Afaste-os do meu caminho.
Pois, caso contrário, é certo que um dia estarei sozinho.
E assim, quando o limite máximo me for imposto,
Que a serenidade esteja presente em meu rosto,
Que a alegria do dever cumprido se faça presente.
Ai então, os amigos haverão de lembrar que pela repetição dos meus atos,
Colecionei e emoldurei todos os fatos,
Se não fiz melhor, ao menos tentei.
Não importa quem eu seja,
Aprendiz, companheiro, mestre ou venerável,
Devo trazer o rosto sempre afável,
Pois esta é a verdadeira razão...
Gestos, sinais, simbologias,
Para dar sentido às nossas vidas, muitas vezes, vazias.
É por isso que nos reunimos...
Para tratarmos de assuntos que enlevam o espírito,
Para polirmos nossas imensas pedras brutas,
Para vivermos em paz, para vencermos nossas lutas...
Combater o despotismo, a tirania, os vícios humanos,
Referimo-nos aos de fora como profanos,
E muitas vezes, cometemos as mesmas e velhas falhas!!!
Grande Arquiteto,
Obrigado pela oportunidade que eu tive,
Obrigado pelos irmãos que ganhei,
E, especialmente, por esta vida que passei!!!
Se outra oportunidade me fosse dada,
Se outra vida pudesse ser vivida,
Se tivesse a opção de escolher,
Seria eu novamente um membro dessa loja,
Onde se aplicam normas de consciência e retidão,
E assim, teria eu novamente a chance de poder dizer,
Que fui um verdadeiro Maçom !!!

Milton S. - São Paulo - Brasil.