domingo, setembro 03, 2006

"O Palácio e o Templo"

Sempre tive admiração pelas pessoas capazes de lembrar dos seus sonhos, com detalhes, pois isso, para mim, é bastante difícil. Às vezes, consigo pinçar uma ou outra imagem que acaba perdida no burburinho dos meus pensamentos e nunca me preocupei com a interpretação ou com o significado desses detalhes aflorados.
Durante a noite de sexta-feira, no entanto, aconteceu o inusitado: Tive um sonho em que me foi possível fixar um detalhe; um curtíssimo, mas importante detalhe e gostaria de compartilhar com vocês esse episódio, por considerar que está profundamente ligado à nossa caminhada e à nossa busca pelo entendimento dos mistérios mais profundos da nossa essência, os quais desvelam o nosso verdadeiro Ser. Eis o sonho:
Sonhei que estava em uma campina onde havia uma espécie de ruína, ou os restos de uma antiga construção. Ali, sentado em uma das pedras do que fora um muro, estava um velho, descalço, de barbas e cabelos longos, trajando uma vestimenta semelhante à dos antigos essênios do Mar-Morto. Imaginei que fosse um Mestre da Sabedoria Arcana. Na mão direita, segurava um cajado nodoso e de seu olhar fluiam sensações de paz, harmonia e, principalmente, confiança..
Olhando-me, docemente, disse o ancião: “Se tens um palácio de aventura, abençoa-o!” Em seguida, desapareceu...”. Passei o resto da noite, quase em vigília, pensando no assunto, todas as vezes que me pegava acordado.
Acordei procurando encontrar algum significado para a frase, com um sentimento incrível de perda, por não poder ter tido a oportunidade de prolongar aquele prenúncio de diálogo, sem dúvida, profundo e benéfico para o meu espírito.
De manhãzinha, quando já via os raios do Sol bisbilhotando a veneziana do quarto, recebi o prêmio pela persistente busca; em minha mente formou-se toda uma imagem que transfiro para esse texto, agradecendo ao velho sábio e à minha intuição que se pôs em atividade:
Dependendo do ângulo em que se veja a questão, um “palácio” e um “templo” têm suas semelhanças, pois ambos foram construídos para a residência de algum rei. Um palácio é a morada de um soberano.
Em um palácio habita um rei do mundo terreno, entregue ao luxo de vivenciar a matéria com todos os seus desejos e prazeres, dedicando-se à uma vida de regalias, de excessos e de aventuras.
O templo, entretanto, é a habitação do Divino, do Supremo Soberano, do Grande Arquiteto do Universo. É lá onde se vivencia a ligação com o sagrado; onde se experimenta a conexão com as profundezas do espírito e onde está a simbologia que aponta para as leis que regem o Universo.
Cada um de nós, ao aceitar a etapa de aprendizagem nesse plano terreno, recebe uma construção que lhe servirá de morada; o corpo físico. Com o emprego do livre arbítrio escolhemos o que iremos fazer dele transformando-o em um palácio ou em um templo.
Poderemos, com o emprego da vontade, transformá-lo em um palácio de aventuras, se o reinante for o nosso “ego”. Nesse caso, o palácio servirá para atender aos incessantes e crescentes apelos dos cinco sentidos, buscando satisfazer-lhes as exigências, que a cada momento se apuram e se multiplicam.
Os vassalos, a criadagem e a corte, nesse palácio, são os nossos pensamentos, sentimentos, palavras e ações, cada vez mais fiéis ao ego reinante, orientado pelos nossos conceitos e pré-conceitos nascidos da formação mundana que recebemos, oposta aos ensinamentos que nos conduzem às vivências evolutivas para o caminho do aperfeiçoamento ou da polidura.
As visitas recebidas nesse palácio, tão estreitamente ligadas ao soberano, trazem os presentes diletos que vêm com a sensualidade luxuriosa, a gula, a preguiça, avareza, a vaidade, a ira, a intolerância, a deslealdade, o orgulho e todos os vícios que as acompanham.
Esses visitantes deixam o palácio repleto de fuligens que se agregam pelas paredes, representadas pelos resíduos das drogas entorpecedoras, das fumaças que alteram os estados de consciência, de todas as substâncias químicas injetadas nas instalações hidráulicas, bem como os alimentos corrosivos que são armazenados nas despensas reais, enfraquecedores dos alicerces dos corredores e dos salões.
As formas-pensamento liberadas pela ação dos visitantes e dos presentes criam conseqüências, cujos resultados serão os ajustes reclamados pela Lei Universal de Causa e Efeito...
Foi aí que consegui entender as palavras do sábio ancião: “Se tens um palácio de aventura, abençoa-o!”. Entendi que abençoar o “palácio”, significa a ação transformá-lo em “templo”. Isto é, prepará-lo, com todo o sacrifício que isso significar, para transformá-lo na condidgna habitação da Divindade, que é a sua verdadeira finalidade.
Para isso, é necessário que nos dediquemos, com todo o nosso esforço e toda a nossa vontade, à tarefa limpar os resíduos corrosivos do palácio, “construindo masmorras aos vícios e levantando o templo para as virtudes” que são as convivas do Grande Arquiteto do Universo.
Essa “bênção” de que nos falou o velhinho é a nossa entrega às atitudes responsáveis como obreiros que sentem em seus próprios corpos a habitação Daquele que preside toda a Criação, em todos os Universos. Essa bênção foi expressa pelo Mestre Jesus quando disse aos “doze”: “Acaso não sabeis que sois templos do Divino e que o Espírito Santo reside em vós?” Afirmação também reforçada em outra máxima quando nos alertou ser impossível “servir, ao mesmo tempo, a dois senhores...”
Nunca mais esqueci o sábio conselho do velhinho....

Por O Aprendiz:.

Um comentário:

Anônimo disse...

BELÍSSIMO, TENHO POUCO TEMPO DE MAÇONARIA E NUNCA LI UM TRABALHO TÃO BELO QUANTO ESTE.